22/02/2013

SOMOS TODOS IGUAIS, MAS ALGUNS SÃO MAIS IGUAIS QUE OUTROS

- frase adaptada de Georges Orwell (daqui)

PORQUÊ EMPRESAS DE LISBOA NÃO SE PODEM CANDIDATAR A I&D (inovação & desenvolvimento) ?


Desde 2004, a região Lisboa e Vale do Tejo, que até esse ano representava mais de 50% deste tipo de   projetos, exatamente por ser a região onde havia mais empresas inovadoras, está impedida de se candidatar aos mais importantes financiamentos em inovação.

Segundo o relatório de 2006 da AdI (Agência de Inovação), que gere estes programas apoiados por fundos europeus, ocorre o seguinte (pgs. 36,37):

"A região de Lisboa e Vale do Tejo, em 2006, não registou qualquer entrada de candidaturas, na sequência do cancelamento [leia-se, proibição] da apresentação de novas candidaturas referido anteriormente, afectando assim a dinâmica do programa nesta região (...)
Foram beneficiadas 60 empresas, das quais 50% pertencentes à região Norte do país e 40% à região Centro". 
"Localização geográfica das empresas com candidaturas aprovadas em 2006 ":


Tanto quanto sei a situação mantém-se. É difícil achar dados na net (porque será??). Após muitas tentativas consegui ver que em 2012 enquanto a região de Lisboa preenche apenas 9 páginas de projectos apoiados, a região "Norte" é contemplada com 64 páginas (!), o Centro com 39, o Alentejo apenas com 7 e o Algarve com 4. Açores e Madeira não são monitorizados, porque a AdI não tem competência  sobre as RAs. Esclarecedor.

FALANDO DE MANIPULAÇÕES...

Agora percebo porque é que o "Portugal aqui tão perto" da RTPi quase só apresenta empresas inovadoras do distrito do Porto e vizinhos. Pela razão acima, e por ser provavelmente emitido do Porto, facto que tenta  disfarçar usando uma (incipiente) apresentadora sem sotaque local. Mas o cenário trai-os - apesar de prolixo, é dominado pela bela ponte criada pelo engº Eiffel junto à Ribeira.

É-me desagradável praticar este exercício crítico, quase de mau da fita, num país onde as pessoas parecem ter preocupações mais superficiais. Eu que até sou do Douro e adoro o Porto, onde tenho muita família e fiz amigos especiais (vivi nesta cidade um intenso período de estágio profissional e não só).

Mas é uma simples questão de justiça. Por exemplo, é inconcebível que Algarve e Alentejo - regiões com as quais  poucas ligações tenho, mas que constituem metade da superfície do País - vejam projetos importantes sistematicamente emperrados.  Sines, Alqueva, são exemplos, entre muitos.

E OUTRAS, AINDA PIORES...

Há dias Rui Moreira (A.Com.Porto) e Luís Nazaré (ex-CTT), comentadores residentes do "Economix", insultavam o País, e o Alentejo em particular, dizendo que Sines (único porto de águas profundas do País capaz de receber supercargueiros), era coisa de lunáticos; mais, que uma linha rápida de comboios de carga  para a Europa jamais deveria começar ali.

Claro, omitiram deliberadamente que Sines é o porto mais natural para Extremadura, Madrid, Leão e Castela, regiões que envolvem o pólo económico central da península. Mas montar um centro automóvel Pininfarina na Maia, que custou à cabeça 10 milhões €, quando as mais importantes indústrias do sector são na A.M. de Lisboa, isso já não é incoerente. O assunto nem foi falado mas se fosse, sem contraditório, logo viriam os habituais argumentos falsificadores embrulhados em papel reluzente.

Será difícil adivinhar porque é que este Economix, único programa semanal de Economia da RTPi, escolheu uns Dupont & Dupont em vez de economistas prestigiados de correntes  opostas?

É com pessoas destas em postos-chave que a polarização económica no Porto vai sendo subrepticiamente levada a cabo, à custa do esfrangalhamento do País.

ONDE É QUE ISTO VAI DAR?

A coisa pode tornar-se mais grave na situação de colapso para que o País está sendo lançado. A habitual irracionalidade que toma conta da "rua" nestas fases, pode ser aproveitada por hábeis lóbis minoritários para um golpe de Estado que arrasaria o que resta da Economia de algumas regiões do País. Quem sabe, sonhando fazer dele uma imensa quinta, como é o Alto-Douro, região que produz o produto nacional mais emblemático mas cujo lucro vai todo para as firmas exportadoras de Gaia. Na verdade, hoje, a região vinhateira património mundial é a menos desenvolvida do País. Quando eu era criança, anos 60, o meu concelho, Tabuaço, onde se produz uma das marcas mais  mundializadas do vinho fino, tinha indústrias, belos lagares de azeite e regorgitava de vida. Hoje, quase nada, aldeias despovoadas, e até as estradas continuam a ser as mesmas perigosas vias alcantiladas de há 40 anos!

O interesse das forças dominantes da UE é enfraquecer e dividir os países periféricos, fazendo-os perder toda a lógica nacional, desviando os centros para Bruxelas, Frankfurt, Roterdão ou Paris. As regras sobre fundos europeus não são obra do acaso, e têm cúmplices e inspiradores locais, no próprio País.

Depois, admirem-se que Lisboa tenha a maior taxa real de desemprego, e que um destes dias as pessoas venham para a rua e quebrem tudo, como na revolução de 1383.





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